A demagogia é, sempre, um sucesso de público. Por mais que os fatos se encarreguem de desacreditá-los, sempre surgem novos demagogos e novas formas de sedução para iludir os eleitores. Aliás, não nos faltariam estadistas se a mentira e a demagogia não fossem mais sedutoras do que a verdade.
Um dos fenômenos políticos mais importantes das últimas décadas no Brasil foi o abandono, pela maior parte da esquerda, de suas aspirações revolucionárias. Ela descobriu que bem melhor do que a luta armada seria envolver sua aguerrida militância na tarefa de cobrar mundos e fundos de quem estava no poder. Dá certo e ninguém se machuca. Resultado: minguaram os velhos partidos populistas e cresceu geometricamente a esquerda. A última eleição presidencial, aliás, foi um leilão de demagogias. Prometiam-se postos de trabalho como se fazem apostas num jogo de pôquer: "Dez milhões de empregos!", dizia um. "Teus dez mais dois!", rebatia outro. "Teus dois mais quatro!", saltava o terceiro. Deu no que estamos vendo.
O demagogo brasileiro incorpora três características da índole nacional: o hábito de botar a culpa nos outros, a velha mania de remendar os efeitos em vez de resolver as causas dos problemas, e o conceito de que, fora do esporte, competição é coisa de mau caráter. Assim, por exemplo, é cada vez menor o número de estudantes oriundos das escolas públicas que ingressam nas universidades públicas. Um estadista diria que isso é causado pela perda de qualidade do ensino fundamental e médio nas escolas públicas e enfrentará o problema aprimorando esses níveis educacionais. Toda a juventude seria beneficiada, a sociedade como um todo se capacitaria melhor para o mundo moderno e o acesso à universidade ganharia em competitividade e na qualificação dos acadêmicos. Já o demagogo diz: a culpa é dos desníveis sociais que beneficiam as elites e a solução é criar cotas nas boas universidades públicas para os egressos das deficientes escolas públicas. Resultado? Expressiva perda de qualidade e nenhum ganho quantitativo. Os muitos tolos, no entanto, ficarão pensando que, finalmente, estamos zelando pelos necessitados nessa competição injusta.
Houvesse respeito pela inteligência alheia, haveria respeito pela Universidade, porque ela é o locus da inteligência, da excelência, do mérito. Qualquer outro critério de acesso ou promoção (ideológico, político, social, racial, ou de classe) a agride, causando dano irreparável. Pelo jeito, jamais precisaremos precisar criar cotas para os menos capazes nas funções de governo, mas, por certo, vamos acabar criando quotas para os oriundos das quotas nos concursos públicos.