Dado o caráter secretíssimo (por isso leia este artigo reservadamente e depois o destrua) de que precisa se revestir uma eventual ocupação militar dos morros cariocas, parece que o problema do crime organizado no Rio de Janeiro se encaminha para uma solução relâmpago. O Exército, quando chegar, encontrará caminhões descarregando cocaína, banqueiros do bicho contabilizando a féria do mês, seqüestradores controlando seu estoque de reféns, arsenais clandestinos abarrotados e farta sinalização viária indicando as agências do Comando Vermelho (todas pintadas de escarlate para facilitar a identificação e atendidas por funcionários portando crachás). Colhidos de surpresa, traficantes, estelionatários, contraventores e seqüestradores formarão fila para se entregar docilmente à turma do Viva Rio, da qual receberão flores e ternas mensagens de acolhida, antes de serem encaminhados aos camburões.
Mais estupefacto do que os bandidos com a insólita operação só o primeiro-damo Garotinho, para quem a única coisa anormal, no Rio de Janeiro, é o César Maia. O resto de que falam é tudo exagero de quem diz. Às vezes penso que quando o ex-governador diz estar no templo, em oração, ele vai mesmo até o Iraque, sossegar um pouco sob fogo cruzado e encontrar-se com sua alma gêmea, o sr. Mohammed Saeed al-Sahhaf, aquele sisudo porta-voz de Saddam Hussein que dizia estar tudo sob controle enquanto as bombas explodiam ao seu redor.
Garotinho parece ter herdado de Brizola a idéia de que a imprensa amplia o que acontece no Rio. Coisas triviais como, por exemplo, a corridinha a beira-mar feita por um pacato grupo de favelados, o atencioso fuzilamento de alguns adolescentes, a mera invasão de um quartel, a periódica e respeitosa troca de tiros entre policiais e traficantes, o enlutado fechamento do comércio do morro quando falece algum empresário da Câmara Setorial da Coca, se ocorrerem no Rio de Janeiro, são logo apresentadas à opinião pública, maliciosamente, como arrastão, chacina, tiroteio e estado paralelo. É muita má vontade!
Mas nada se compara ao alarde feito com as tais “balas perdidas”, exibidas como um novo problema quando, de fato, são uma solução. Como podem chamar assim - “perdidas” - balas que, na verdade, foram definitivamente encontradas? Quando todas as balas perdidas tiverem sido encontradas acabou a munição e não se fala mais nisso!
E não se esqueça, caro leitor, de engolir este artigo depois de ler, porque, como se sabe, estas coisas têm que ser tratadas de modo muito reservado, caso contrário não funcionam.