Navegando na Internet deparei-me com a chamada, no sitio da UOL, sobre a entrevista concedida à revista “Trip” por Walter Salles, o cineasta-banqueiro que fez Central do Brasil e agora filmou a biografia de Chê Guevara. Deve ser lida por todos, tanto que não resisti a fazer esses comentários. Nela está à mostra o complexo de culpa que a nossa elite econômica adquiriu, doutrinada por anos e anos de pregação gramsciana.
Reputo a esse sentimento a causa primeira das maiores mazelas de nosso país, pois a elite, em qualquer sociedade, é que tem a missão civilizadora, a clarividência do porvir, a liderança moral. Quando ela deixa de ser referência, instala-se a decadência. É todo o povo que decai.
Walter Salles verbalizou a indigência mental dessa gente, que nem mais elite é, são apenas os resquícios enriquecidos do que outrora era o escol da sociedade. A riqueza não pode, todavia, esconder a pobreza de alma, o fracasso pessoal e de classe de quem não dispõe de nenhum projeto além daquele que é o proverbial servilismo diante do politicamente correto e das idéias coletivistas.
“A classe social de onde venho é asfixiante”. Quem lê essa frase solta deverá achar que o sujeito nasceu em uma favela ou nos ermos dos sertões. Mas é dele, filho do banqueiro que passou parte da infância e da adolescência em Paris. “Não fico puto quando alguém menciona de onde vim. É a minha história, ponto final. Fico puto quando há generalizações, quando alguém diz que uma pessoa de uma classe social não pode olhar para outra com integridade”. Aqui nessa frase é que se vê a pobreza espiritual do homem. Vê o mundo pelas categorias marxistas. Apenas um ser vê outro ser, classe social não é nada.
No encontro de personalidades é que pode haver trocas. Por mais filmes piegas e comunas que venha fazer, nunca conseguirá enxergar o outro porque o outro é gente, não classe. Ama o próximo como a ti mesmo é algo que Walteza não sabe o que é. [É assim que os implicantes lhe tratam, segundo o repórter. Permita-me, pois, a intimidade].
O seguinte trecho enfatiza a pobreza espiritual do homem: “Passar um tempo na casa desse tio abriu um monte de portas — ele é umbandista, tinha um terreiro dentro de casa. Sacudir aquela poeira católica foi, no mínimo, interessante”. E pode apostar que declarou isso como um triunfo pessoal e não como o fato é: uma enorme regressão, um descenso, uma decadência, a negação daquilo que tinha de mais precioso para abraçar o nada em seu lugar. É com se dissesse: “Olha, sou branco e rico, mas me identifico com o negro e pobre”. Sacudir a poeira católica, como ele declarou, é negar toda a civilização. Tinha mesmo que filmar a vida de Guevara. Merecem-se.
“O que eu espero do governo Lula? Antes de mais nada, que ele reverta esse quadro de desequilíbrio social que existe no país. E originalidade, a criação de um modelo de desenvolvimento que nos seja próprio, independente”. Se os comissários petistas puderem, reverterão o quadro, sim, a começar por acabar com a raça dos banqueiros, que eles tanto odeiam. Aliás, outro não era o desejo de Chê, que morreu em prol de alcançar esse ideal nada cristão.
A vida, caro Walteza, é mais do que imagens projetadas. E há uma verdade, à qual você deu as costas. Não há grandeza nas suas declarações. Deu-me pena lê-las. A indigência delas só me convenceu a não ver os seus filmes, que nunca os vi mesmo, pois devem ser ainda mais pobres do que as suas idéias. Uma pregação niilista rumo ao niilismo socialista.