Na década de 50, as favelas correspondiam a 10% do perímetro urbano da cidade do Rio de Janeiro. Na década de 70 já correspondiam a 30%. Creio que neste quarto ano do século XXI, os números se inverteram: 30% é o que resta de cidade. Seria despropositado dizer que o Rio é um favelão em que uma pequena parte ainda é ocupada pela cidade? Ora bolas! Se numa mistura há 70% de milho torrado e 30% de café tem propriedade dizer que se trata de cofea arabicas? Só se for café fajuto.
E desde o momento em que 53% da atividade econômica estão na informalidade, por acaso seria despropositado dizer que o Brasil está se transformando num grande camelôdromo em que a economia formal perde gradativamente terreno para o avanço progressivo da informalidade?!
A esta altura alguém poderia indagar: Mas o que tem a ver o processo de favelização com o de informalização, além da constatação de que ambos crescem, ainda que em ritmos diferentes? Fosse o caso do desmatamento, a relação seria demasiadamente óbvia, pois à medida que se alastram favelas encurta-se a área verde.
Todavia, a outra relação torna-se bastante palpável quando considera-mos que ambos são índices confiáveis de um processo de empobrecimento de um país que na década de 70 era a oitava economia do mundo e hoje é a décima-quinta.
Recentemente, o Brasil foi ultrapassado por ninguém mais que a Índia, terra da vaca sagrada, dos párias e da confusão das línguas. E do jeito que o país está correndo na maratona da prosperidade brevemente será ultrapassado pela Austrália.
Porém não são somente a economia informal e a favelização que crescem assustadoramente, pois há um setor especial da informalidade cujo crescimento supera de longe qualquer outro: o toxiconegócio. Obviamente, não se pode dizer que haja uma relação causal entre a favelização e a cocainização da cidade, pois esta não depende daquela, nem aquela depende desta para se alastrar. Cabe apenas dizer que a favela é o lugar em que se instalaram as diversas gerências do toxiconegócio, juntamente com seus poderosos bunkers.
E agora cabe falar em metástase, pois umas poucas células cancerosas que não receberam eficaz combate médico se multiplicaram contaminando todo o corpo. Mas de nada adianta matar este ou aquele chefete ou gerente regional do tráfico, pois outro já está preparado para assumir o comando. E não cabe falar do toxiconegócio como se fosse um monopólio, pois há disputas de ponto por quadrilhas rivais. Este o quadro desalentador de uma cidade sitiada pela violência endêmica.