Logo após o desmoronamento da URSS, a esquerda mundial retomou suas atividades com estratégica volta ao ninho da utopia onde, há dois séculos, foram chocadas as idéias de Owen, Fourier, Blanc, Proudhon, claramente antagonizadas, a seguir, pelos gurus do socialismo científico - Marx e Engels. Não preciso contar o filme dos genocídios, totalitarismos e fracassos econômicos suscitados pelas idéias da dupla. Seus filhotes ideológicos, tão logo o mundo soviético desabou em 1991, sem novas revoluções para fazer, resolveram revolucionar o dicionário. Assim, o socialismo científico, do qual tanto se orgulhavam, passou a ser taxado de "burocrático" , enquanto a utopia deixou de ser discriminada e ganhou slogan - "um outro é mundo possível". Como ninguém sabe onde esse mundo fica, torna-se impossível enviar uma sonda para saber se existe, por lá, alguma vida inteligente. Criaram o termo neoliberalismo, atribuindo-lhe a culpa dos males do mundo. E, na ausência de quaisquer idéias que não sejam os fracassados esquemas de Marx e Engels, geraram a expressão "pensamento único" para designar o que vai na cabeça do mundo bem sucedido.
Enquanto socialistas, comunistas e esquerdistas de vários pêlos vão se reunindo nas suas ONGs, no Fórum de São Paulo e no Fórum Social Mundial, a roda da história continua girando, o mercado funcionando e muitos povos tocando seus barcos, distantes das utopias, remos metidos na realidade. Suas economias prosperam e suas sociedades se desenvolvem. No Brasil, tudo se inverte. Aqui, é absolutamente enganoso falar em "pensamento único" como coisa da direita, pois vivemos sob tal hegemonia da esquerda que na última e desastrosa eleição presidencial todos os quatro candidatos - Lula, Serra, Ciro e Garotinho - disputavam entre si para saber quem era mais de esquerda.
O mundo moderno sabe que o progresso depende de livre mercado, trabalho, renda, lucro, poupança, liberdade de empreender e estímulo ao empreendedorismo, ordem interna, respeito à propriedade e aos contratos, enraizada rejeição social à mentira, ao fisiologismo e à corrupção, bem como da adoção de instrumentos políticos que valorizem os partidos e inibam os personalismos que pavimentam o caminho para demagogos e oportunistas.
Qual o espaço concedido entre nós a essas idéias? O político que se atrever a assumi-las é acusado de neoliberal, o que equivale a um jato de gás paralisante nas fuças. Por isso, não mais que um pequeno punhado de escritores - distantes do mundo acadêmico, onde são vetados, e das contendas eleitorais, onde são rejeitados - pode ter a audácia de afrontar o pensamento único esquerdista nacional, ele sim, gás paralisante lançado ao rosto da sociedade brasileira.